Os “maraturistas Runners” estão de parabéns. Nem a chuva que banhou Macapá, desde a madrugada, foi suficiente para afugentá-los da ideia de treinar. Todos compareceram e, por volta das seis da manhã, iniciaram mais uma jornada de treinamento funcional.

É assim mesmo. A vontade de cumprir suas metas não significa nada se você não possui a vontade de treinar. Hoje, só os guerreiros conseguiram.

Edson, Lana, Ana Lúcia, Gil e Rafael. 
Há dias, que por mais
boa vontade que você tenha, o corpo parece não querer treinar. É uma tal de
indisposição, preguiça ou sei lá o quê. Entretanto, em época de preparação para
maratona, treinar é lei. Qualquer desrespeito, você é condenado a pagar os
últimos quilômetros da prova com prisão perpétua, dado a sensação de parecerem
uma eternidade. Portanto, se você está no controle, vá correr de qualquer
jeito. No dia da maratona, isso será um bom atenuante a seu favor, na redução
da pena.
Como “maratona não é
brincadeira de criança”, como já disse e sentiu na pele meu amigo Flávio Masi, então,
se é para ser condenado que seja pela ação, jamais pela omissão. O jeito é
treinar e deixar o corpo no comando. O que puder ser feito, será melhor do que cabular
a planilha. E tem mais, não haverá o sentimento de arrependimento para perturbá-lo
até o próximo longão.
Refiro-me,
principalmente, em relação aos longões, pois, são eles que trabalham a
resistência à fadiga em provas longas, dando às condições necessárias para
aguentar o “tranco” na hora “H”. Além disso, há o aspecto psicológico. Um
atleta bem treinado terá confiança suficiente para encarar e superar as
dificuldades do percurso.
A ideia não é
desencorajar ninguém. Simplesmente alertar que ninguém corre uma maratona sem
uma preparação adequada, levada a sério. A prova exige muito do atleta e a
decisão de corrê-la deve ser pensada com responsabilidade. Não é do dia para a
noite. Além disso, apenas o treinamento não é garantia de sucesso. Tem a
alimentação, uma vida sem excessos (não combina com noitadas e muito álcool), o
descanso e a disciplina para cumprir o treinamento.
Pensar numa meta para
uma maratona é uma boa motivação para manter o foco. Ela nos estimula e nos dá
força para, mesmo nos momentos difíceis, levantar da cama e sair para correr.
Uma coisa que todo corredor
gostaria de dizer para o mundo é que concluiu uma maratona. O tempo não importa,
mas tem que ter no currículo para ser chamado de maratonista. É com uma patente
que cria uma hierarquia e separa os corredores dos maratonistas. É o ápice do atleta
amador.
Beleza, tudo isso é
muito legal. Agora, a missão não é fácil. Nem preciso listar que o camarada
precisa, basicamente, de treinamento árduo, com pelo menos 4 dias dedicados a corrida,
incluir sessões de fortalecimento muscular e adotar uma alimentação adequada. Além
disso, há um fator que considero relevante. O candidato a maratonista deve
preparar o espírito para sofrer.
A maratona tem seu
charme, mas ninguém vai correr 42 km com o propósito de curti-la. É porque o
corpo vai a exaustão e, a menos que você tenha um sentimento sádico no esporte,
não vai sentir prazer durante o percurso. Ao contrário, vai doer um pouquinho.
Obviamente que você conseguirá extrair algo de bom para sua vida. O prazer de
vencer o desafio e a sensação de superação dos limites do corpo mostrarão que para
qualquer conquista, seja profissional ou pessoal, é preciso persistência,
disciplina e determinação. E isso, pode ter certeza, fará toda a diferença na
sua vida.
Bem, o que quero
dizer é que, para quem vai encarar uma maratona é preciso ter a exata noção do
que vai fazer. Não adianta ficar sonhando com tempos expressivos porque ela não
perdoa os aventureiros. Ela é cruel, muito cruel, como dizia o narrador Januário
de Oliveira. E mais, se você é competitivo, desafie-se. Deixe o sonho de vencer
aquele seu colega para uma prova mais curta, porque se você “quebrar” poderá
concluir os últimos três quilômetros de uma prova de 10, por exemplo, trotando
ou caminhando. Na maratona, se isso acontecer, vai faltar energia até para
andar. O tal de um “urso” vai pular nas suas costas e você vai sentir o drama
de carrega-lo até ao final da prova.
O engraçado disso é
que você vai se perguntar o que está fazendo ali. Vai prometer que nuca mais vai
matar as sessões de musculação, faltar aos treinos ou deixar de fazer
alongamento. Vai pedir a uma “penca” de santos para tirá-lo daquela enrascada.
Um aprendizado de se correr uma
maratona pela primeira vez é que a forma com que seu corpo vai reagir ao
esforço é uma incógnita, dessas do tipo que admite poucas soluções e que, pode
acreditar, a maratona nos ensina melhor que os matemáticos. Por isso, o
recomendável é fazer a primeira de forma conservadora, sem compromisso com
tempos expressivos ou com espírito de competição, principalmente, com quem já é
mais experiente na distância.
Repito: maratona não é para aventureiros.
Por isso, respeite os seus limites para ter vida longa no mundo das corridas. O
seu corpo agradece.
Não sei se alguém já fez a estatística, mas quantas vezes você já ouviu de alguém conhecido a expressão “estou voltando de lesão” para justificar um tempo fraco em alguma prova? É impressionante, porque o planeta parece ter virado uma imensa fisioterapia. Todo mundo está voltando de lesão, a frase é pronunciada nas mais diversas línguas. E por “voltando”, vale tudo. O gerúndio é o tempo verbal mais impreciso que existe, não por acaso foi adotado pela turma do telemarketing para explicar que “vamos estar providenciando um estorno para sua conta”. Quando meu dinheiro será devolvido? Bem, o gerúndio não garante prazos específicos.
E, “voltando” às nossas lesões, uma tendinite, um desconforto muscular são sempre os nossos vilões preferidos. Se não cumprimos nossas metas, é por causa delas. Foram as lesões que provocaram o “estou voltando”. Nunca corremos mal porque treinamos pouco, muito ou errado. Ou porque enchemos a cara na véspera, ou porque erramos a estratégia da prova. É sempre por causa delas, das malditas lesões.
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Texto extraído do livro “CORRERIA – Histórias do Universo das Corridas”
de autoria do Sérgio Xavier Filho, editora Arquipélago Editorial. 
Corredor amador dos
bons, Emerson Rabelo é sinônimo de
persistência, disciplina e determinação. Sua dedicação aos treinos tem
possibilitado tempos expressivos em provas de curta e média distâncias, mas sem
perder a ternura. É que sua preocupação, atenção, cuidado e capacidade de
solidariedade o faz adiar um dia treino rápido para acompanhar um amigo mais
lento para incentivá-lo.
Emerson Rabelo

Emerson “Bala”
não é somente “bom de pernas”. É um cidadão consciente que realiza um trabalho
de inclusão com jovens, na Associação “Porta do Sol”, onde difunde valores
positivos através da prática do esporte, visando comportamentos éticos e
morais saudáveis e, dessa forma, contribuir na formação de pessoas dignas e
honradas.
É um
exemplo de cidadania e de amor à corrida.
Início de temporada é sempre a
mesma coisa. O corpo está meio molenga e um pouquinho mais cheinho, reflexo das
festas de final de ano. Nem precisa de uma desculpa mais elaborada. O fato é
que no começo do ano começamos a engatar o treinamento e nem com promessa para
uma “penca” de santos, conseguimos correr de forma competitiva. Lá para março é
que o corpo começa a responder melhor, a colher os frutos do trabalho de base
inicial.
Já tinha preparado o espírito
para a Corrida de Belém. A ideia era deixar a corrida me levar, num trocadilho
à música do Zeca Pagodinho. Sem maiores ambições de tempo, fiz um aquecimento
de 20 minutos e, 10 minutos antes, fui para o pórtico de largada. As condições
de tempo estavam ótimas, nem parecia clima de Belém-PA. Ambiente ameno, sem sol
e ainda com cara de chuva. Perfeito para correr.
Consegui um posicionamento bem
perto da elite, o que facilitou um início sem atropelos. A prova começou em
frente ao Boulevard Shopping, na Av. Visconde de Souza Franco, na Doca, que é muito
popular entre os paraenses, e seguiu em direção a Rua Marechal Hermes. Nela,
ecoou o primeiro “bip” do Garmin insistindo em avisar que estava forte no
primeiro quilômetro, pace de 4min09s/km. O melhor era entreter-se com o visual
da Estação das Docas (armazéns do porto de Belém que foram restaurados e
transformados num complexo turístico e cultural) e do mercado do Ver-o-peso
(maior feira-livre da América Latina) para “segurar o facho”, como diria minha
mãe.
Funcionou. O segundo quilômetro
foi no ritmo de 4min19s, no exato momento em que contornava a Praça do Relógio.
Estávamos na Cidade Velha (bairro mais antigo da cidade) e o tour por Belém
continuava. Somente nesse trecho, tinha a Igreja de Santo Alexandre, o Forte do
Castelo, a Casa das Onze Janelas, a Igreja da Sé e o Palácio Antonio Lemos
(sede da prefeitura). É bem verdade que pouca gente aprecia os monumentos. É
que muitos correm de cabeça baixa e estão mais ligados na corrida.
Após o tour, seguimos na Av. 16
de Novembro, onde completamos o terceiro quilômetro e o ritmo continuava
aumentando 4min23s/km. A sede começou a atacar e nada de posto de hidratação.
No final da 16 de Novembro, passamos pelo Espaço São José Liberto (antigo
presídio que se tornou polo joalheiro, casa do artesão e museu) e atingimos a
Av. Roberto Camelier. O corpo começou a dar sinais de cansaço, o que foi
atenuado pela água. Tomei uns goles e presentei a cabeça com uma boa dose.
Passamos pela Rua dos
Mundurucus e atingimos a metade da prova na Av. Padre Eutíquio. Estava com
21min41s de prova, rápido demais para quem se encontra em fase inicial de
treinamento. Mesmo assim, questionava se o cansaço tratava-se de falta de
condicionamento, do ritmo forte ou das duas coisas juntas. Pura maluquice que passa
pela cabeça quando corro. Coisa de corredor. Comecei a temer a famosa
“quebradeira” e o sexto quilômetro foi o pior desde o início da prova,
4min31s/km. Nessa altura, estava às proximidades do Shopping Pátio Belém.
Quando entramos na subida da Av. Gama Abreu, ‘colei’ num atleta. Ela estava num
pace que me pareceu ideal para aquele instante da prova. Segui no seu rastro
por cerca de dois quilômetros e consegui paces de 4min25s/km e 4min29s/km,
respectivamente, no sétimo e oitavo quilômetro.
Finalizando a prova
Conclui o trecho da Av. Nazaré
às proximidades da Basílica de Nazaré, passei pela Av. 14 de março e entrei na
Av. Gov. José Malcher fazendo força para segurar o ritmo. Quando o GPS ‘bipou’
o último quilômetro e mais a descida da Av. Visconde de Souza Franco, soltei o
corpo e acelerei. Pressentia a aproximação de atletas, mas o ritmo que imprimi
não permitia que me ultrapassassem. Segui com passadas firmes e respiração ofegante.
Nem ousei olhar para o cronômetro para não desencorajar. Cruzei a linha de
chegada tão cansado quanto rápido. O pace final foi de 3min26s, a melhor
chegada de todas as provas que já corri. O tempo da corrida foi um
surpreendente 43min02s. Nem preciso dizer que foi o melhor início de temporada
que já tive.
Chegada na Corrida de Belém
Adelson Rodrigues e Larisse de Souza, do Maranhão, foram os
campeões gerais. Competição é apoiada pelo jornal O Liberal

Por Pedro Cruz

A Corrida de Belém reuniu 2.400 corredores no centro de Belém (Foto: Pedro Cruz)

Ano a ano a Corrida
de Belém vem se popularizando e, em 2013, a edição bateu seu recorde de
participantes. Ao todo, 2.400 atletas, divididos entre 19 categorias,
percorreram o percurso de 10 quilômetros, que passou por alguns dos principais
pontos turísticos da cidade, como a Estação das Docas, mercado do Ver-o-peso,
Forte do Castelo e a Catedral da Sé. Além de proporcionar a integração de
famílias e estimular o estilo de vida saudável, a corrida também serviu para o
maranhense Adelson Alves Rodrigues subir no ponto mais alto do pódio pelo
segundo ano consecutivo. No feminino, Larisse do Nascimento de Souza, também do
Maranhão, foi a campeã geral pela terceira vez. Ambos receberam, além da
premiação pelo primeiro lugar de suas categorias, uma moto zero quilômetro. A
chave simbólica foi entregue pelo prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho.
– Esporte é lazer,
alegria e saúde. Ver 2.400 pessoas esgotando as inscrições demonstra que o povo
tem consciência disso, o que é muito bom para a cidade – declarou Zenaldo.
Nascido no
Maranhão, Adelson Rodrigues está se acostumando a fazer sucesso nas corridas
pelo Pará. Pelo segundo ano consecutivo, o atleta venceu a prova que celebra o
aniversário de Belém, além de também já ter conquistado duas vezes o primeiro
lugar na Corrida do Sal, realizada durante o mês de julho em Salinópolis, no
nordeste do Estado. O corredor comemorou a marca histórica de 30 minutos e 12
segundo, novo recorde da competição.

Larisse de Souza e Adelson Rodrigues recebem premiação das mãos do prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho (Foto: Pedro Cruz)

– Passei os últimos
dois meses treinando bastante, mas não esperava vencer a prova, apesar de ter
sonhado ontem com isso. Fiquei muito feliz com o tempo, bati o recorde da prova
– comemorou.
A Corrida de Belém
também serviu para prestar homenagens e superar desafios. Na categoria para
cadeirantes, Rosivaldo Andrade Moraes foi o grande vencedor, terminando a prova
em 28 minutos e 22 segundos. O paratleta, membro da Associação dos Deficientes
Físicos do Pará (ADFPA), dedicou a vitória ao amigo Israel Cruz, que morreu na
última edição da São Silvestre, em São Paulo, no dia 31 de dezembro.
Rosivaldo estampou na camisa uma homenagem
– Para mim é
gratificante (vencer a prova). A primeira vez que eu participei de uma corrida,
uma pessoa insensata disse: ‘o quê que esses aleijados estão fazendo no meio da
gente?’. É isso que a gente veio fazer. Vim fazer também uma homenagem ao meu amigo
Israel. Essa vitória é para ele e para toda a equipe da ADFPA – exaltou.
Mas, a Doca de
Souza Franco, na manhã deste domingo, também teve espaço para a interação entre
amigos e familiares que procuram levar um estilo de vida mais saudável através
do esporte. Os primos Ricardo e Matheus Raymundo são provas disso. Matheus já
participa de corridas de rua há cerca de um ano e meio e não viu problema em
acordar bem cedo para competir.
– É bastante
gratificante porque eu gosto de praticar exercício físico, gosto das corridas
de rua, então, para mim, não é nenhum sacrifício acordar 5h da manhã para estar
aqui na Doca hoje (domingo) – afirmou.
Matheus e Ricardo aproveitaram a manhã de domingo

para participar da corrida (Foto: Pedro Cruz)

Por outro lado,
Ricardo estava participando pela primeira vez de uma corrida. Além de melhorar
o preparo físico, ele explicou que a preparação para a prova ajudou a melhorar
o próprio estilo de vida.
– A preparação começa
semanas antes e, por mais que a gente tivesse compromissos ontem a noite, demos
uma freada neste sábado a noite para poder competir. Eu segui um treinamento,
que começou com oito semanas de antecedência da corrida, além de uma
alimentação balanceada, sem ingestão de bebida alcoólica. Nunca participei de
uma corrida e espero conseguir terminar a prova – explicou.
Confira os vencedores das
principais categorias
Geral
masculino – Adelson Alves Rodrigues (30’12’’)
Geral feminino
– Larisse do Nascimento de Souza (36’57’’)
Cadeirante
masculino – Rosivaldo Moraes (28’22’’)
Cadeirante
feminino – Vileide Brito de Almeida (41’44’’)
Deficiente
visual – Leonardo Fernandes Magalhães (34’50’’)
Deficiente
físico e mental – Thiago Miranda Santa Rosa (30’09’’)

A lista
completa com a colocação e o tempo de cada atleta pode ser conferida no site da
ChipTiming.
É impressionante, mas o que menos interessa em uma grande prova é saber quem ganhou. São Silvestre, Meia Maratona do Rio, Volta da Pampulha, todas as corridas importantes transmitidas pela TV Globo. Pergunte a um corredor amador, já com a medalha no peito, quem venceu a prova e a resposta será geralmente “não tenho a menor ideia”. Mal acompanhado, seria como ir a Interlagos e, na saída do autódromo, desconhecer a vitória de Felipe Massa. Claro, há uma diferença básica. Na corrida de rua, nós somos as Minardis. Quer dizer, participamos de forma amadora em um evento que possui todos os elementos do esporte profissional. Mesmo assim é curioso o nosso desinteresse pelos ídolos da corrida. Ganhou Vanderlei Cordeiro? Marílson venceu no finalzinho? Podemos até conferir isso com atenção se estivermos vendo a corrida pela televisão. Se estivermos participando, o vencedor não tem a menor importância. Estamos infinitamente mais focados em nossos próprios tempos, no desempenho daquele vizinho legal que corre pela primeira vez, em como foram nossos companheiros de treino. Eis a grande diferença da corrida de rua para outros esportes. Aqui, os protagonistas somos nós.
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Texto extraído do livro “CORRERIA – Histórias do Universo das Corridas”
de autoria do Sérgio Xavier Filho, editora Arquipélago Editorial.

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