Lesão não combina com a vida de maratonista. Aliás, não combina com nenhum esporte, mas faz parte dele. Seja para quem pratica por lazer ou competição, de forma amadora ou profissional. Em algum momento de sua vida, você teve, tem ou terá uma lesão decorrente do esporte. Dependendo da atividade, há um núcleo comum e repetitivo de ocorrências que afetam seus praticantes. Nos corredores, por exemplo, os membros inferiores são os mais comprometidos. 
E quando essa lesão provem do seu dia a dia, sem estar ligada a prática desportiva? A dúvida passou a fazer a parte da minha rotina desde que fui acometido pela lombalgia. Independentemente do ângulo, a visão parece a mesma na ótica de pessimistas ou realistas: como pode ter acontecido isso com você que é um maratonista? 
A primeira coisa é pensar que maratonistas são super-homens e estão ilesos aos incidentes que acontecem na vida. É como se médico não pudesse ficar doente, pois sabe como evitar as doenças. Entretanto, acidentes acontecem e podem provocar traumas a ponto de deixá-lo impossibilitado de praticar seu esporte ou sua atividade laboral. Talvez, seja pouco comum contusões fora do esporte, haja vista ter sido a primeira vez em que fui acometido, mas não podemos excluir ninguém de ser afetado por esses eventos.
Aconteceu. É um fato. Agora é focar na reabilitação e só retornar ao esporte quando estiver seguro da recuperação. Voltar a correr sem estar devidamente curado é que não combina com o esporte.
Se tem uma coisa que eu posso afirmar a meu respeito é que sou muito disciplinado. Se tem que treinar, eu vou lá e treino; se tem que descansar, nem saio de casa. Em tempos de “estaleiro”, a ordem é seguir a fisioterapia e isso tenho feito com louvor, diga-se de passagem. Há os exercícios na piscina, prescritos pela fisioterapeuta, e os bônus para serem realizados em casa. Tudo isso, faço sem reclamar. A intenção é recuperar-se para estar de volta às ruas, mas sem pressa.
1. AUMENTO DE BATIMENTOS CARDÍACOS
Durante a maratona a frequência sobe para 140 batimentos por minuto e pode chegar até próximo de 180 na reta final. Com isso, a temperatura do corpo se eleva.
2. ELEVAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL
Para minimizar as consequências da temperatura corporal elevada, o corpo libera suor. Perde-se de 1 a 2,5 litros em uma prova de 42 km.
3. PERDA DE SAIS MINERAIS
Com a transpiração, perdemos água e sais minerais, como sódio e potássio, além de plasma sanguíneo. Isso tudo pode causar cãibras, fadiga e dor de cabeça.
Maratona de Porto Alegre 2014
4. FADIGA MUSCULAR
Grande número de células musculares são danificadas e destruídas ao longo dos 42,195 km.
5. DEPLEÇÃO DE GLICOGÊNIO
A fonte primária de energia para a corrida é o carboidrato, armazenado como glicogênio nos músculos e como glicose no sangue.
6. HIDRATAÇÃO
Corredores que completam em menos de 3 horas hidratam-se com o essencial. Já os que demoraram mais de 4 ou mesmo em 5 horas podem exagerar na hidratação ou pecar na ingestão de eletrólitos.
7. PRESSÃO SANGUÍNEA
Com a intensidade do exercício, o volume sanguíneo nos vasos aumenta e eles se dilatam. Após a prova, o volume diminui drasticamente, mas os vasos não se contraem com a mesma rapidez.
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Texto extraído da Revista Contra Relógio, edição de junho/2014, ano 21, no. 249.    
Estou impossibilitado
de treinar, mas a minha capacidade de escrever posso exercer sem maiores
dificuldades. Bom para o blog. Por isso, vou aproveitar essa capacidade para
falar de minha incapacidade de treinar, ou melhor, dos efeitos da falta de
treino no organismo.
A primeira coisa é que existe um termo para expressar esse processo em que
os benefícios decorrentes do treinamento são perdidos. É o DESTREINO. Em geral,
a partir de um período de uma a duas semanas de inatividade, são suficientes para
perdas no condicionamento físico. Outros efeitos como perda da flexibilidade, diminuição do
ritmo no limiar de lactato, redução na concentração de glicogênio nos músculos
e atividade aeróbica da enzima, tem sido relatadas por especialistas.

Crédito da foto: Runners World Brasil
Há três
semanas de inatividade total, já posso perceber na pele, ou melhor, nas roupas,
alguns efeitos do destreino. Houve um aumento do peso corporal de pelo menos 2
kg. É possível também que tenha ocorrido a perda de massa muscular, uma vez que
permaneci cerca de duas semanas diretamente na cama, levantando-se apenas para
ir ao banheiro.
Mas a partir
dessa semana, o processo de destreinamento começa a ser minimizado. É que já
comecei a fisioterapia. A musculatura está completamente dolorida por conta dos
exercícios na piscina. Normalmente, treinos longos de corrida e as atividades do
treino funcional não acarretavam maiores transtornos.
Na próxima
semana, começo atividades de corrida na água e em agosto, retomo às atividades
normais do treinamento de corrida.
A corrida faz parte da minha vida. É uma paixão que já cultivo há mais de 15 anos. É porque comecei cedo aos 12 anos e segui até aos 17, quando tive que privilegiar os estudos. Depois, retomei a trajetória de atleta aos 32 anos e sigo até os dias atuais. Isso quer dizer que um terço da minha história foi forjada correndo e, literalmente, com muito suor. Não é por acaso que costumo dizer que minha praia é a rua, numa alusão a minha preferência por esse esporte.
Embora, continue pisando fundo e imprimindo velocidades dignas de uma multa de trânsito, isso só é possível no interior de um automóvel. É que fui traiçoeira e covardemente atacado pelas costas por uma lombalgia. Ela impede que eu faça qualquer atividade que gere impacto, como o ato de correr, longas caminhadas ou até musculação. A constatação é que a dor lombar levou por agua abaixo o planejamento, a planilha e toda a preparação para a Maratona de Berlim.

Por outro lado, essa água que lavou minha expectativa de estar firme e forte cumprindo os 42 km de Berlim é a mesma que me trouxe esperança de, pelo menos, percorrer a cidade em passeios. Todas as atividades foram transferidas para a piscina, seja a reabilitação, através do trabalho de fisioterapia, seja o treinamento de corrida. Migrei da terra para a água. Agora, posso dizer que a piscina é minha rua.
Até bem pouco tempo atrás, LOMBALGIA era uma palavra que não fazia parte do meu vocabulário. Para falar a verdade, nem sabia que existia, até ela entrar na minha vida de uma forma avassaladora. Agora, é a mais pronunciada. Pelo menos, falar não dói, por que vamos combinar, eita coisa dolorida essa tal de dor lombar. Te leva literalmente para a cama. E ficar deitado não combina com a rotina de um maratonista. Principalmente, quando você está focado cumprindo o treinamento visando a sua meta do segundo semestre. O fato é que, com toda a carga de treinamento que experimentamos, sofrer uma lesão quando você está descansando, parece até piada. Sem graça, por sinal. Mas o que me deixou mais abismado foi saber que, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, cerca de 80% da população mundial já teve ou terá esse problema. No Brasil, quatro em cada cinco brasileiros tem ou terão uma dor na coluna digna de atenção médica e que o impossibilitará para o trabalho. Nos EUA, dados da International Study of the Lumbar Spine, dão conta que 31% das compensações trabalhistas pagas estão relacionadas com a coluna lombar, com custo social anual na casa de US$ 23 bilhões. Vixe! Dói também no bolso.
Depois do susto da lombalgia e das incontáveis horas de cama, a vida começa a voltar a normalidade. Sem o desconforto anterior e com o desaparecimento das dores, sentar e caminhar voltam a fazer a parte da minha rotina. Agora, o foco é na fisioterapia para fortalecer a região lombar, antes de colocar o pé na estrada novamente. Assim, é possível que só retorne aos treinos de corrida a partir da segunda quinzena de julho. Dentro dessa previsão, restarão 10 semanas para se preparar para a Maratona de Berlim. Não é muito tempo, mas acredito que é o suficiente para pelo menos participar da prova sem maiores ambições de tempo e, ainda por cima, praticar o maraturismo. Assim, segue a vida rumo a Berlim. 
Estou na décima copa do mundo. Desde 1978, venho acompanhando diretamente o desempenho da nossa seleção. Em 2010, a primeira fase da copa, pela primeira vez, eu assisti fora do Brasil, rodando pela Europa. Estava de férias e me recuperando da Maratona de Estocolmo. Na estreia do Brasil contra a Coreia do Norte, estava em Copenhagen, na Dinamarca. Mas acreditem, copa do mundo num país que não tem tradição no futebol é como uma segunda-feira de trabalho, um dia qualquer, mesmo a Dinamarca estando na copa. Tivemos dificuldades em encontrar um local que estivesse com uma TV ligada no jogo. Gritar, xingar ou falar alto, nem pensar. É tudo muito comportadinho. Só depois dessa experiência é que percebi que somos o país do futebol.
Em Copenhagen-Dinamarca buscando um local para assistir ao jogo do Brasil na Copa de 2010
 
Há corredores que tem xodó por algumas provas. Não perdem de jeito nenhum. Cada um tem lá suas razões e não escondem de ninguém. Ao contrário, fazem questão de expressar sua predileção e marcar presença no dia, seja lá onde for o evento. No meu caso, os sinos dobram por ti, Corrida do Círio. Esclareço de antemão que não trata-se apenas de dez mil metros que devem ser vencidos
quilômetro a quilômetro. Tem um algo mais. Primeiro, a relação afetiva que cultivo com a cidade de Belém, local onde a prova é realizada. Ela faz
parte da minha história de vida, durante o início da carreira estudantil, na década de 1980. Correr pelas suas ruas que tantas vezes percorri de ônibus, faz rememorar os
momentos difíceis e de extrema dificuldade dessa época, mas também de celebrar
a superação de todas as barreiras. Segundo, há o
aspecto da religiosidade. Fiz uma
promessa/pedido, que cumpriria nessa prova [a Corrida do Círio é tradicional por reunir promesseiros e devotos de Nossa Senhora de Nazaré. Faz parte da programação do Círio de Nazaré, maior evento católico do mundo]. Pedi ajuda aos céus para iluminar
meu pai na sua luta na busca da cura de sua doença. Foi um momento difícil da vida, mas
que me fez perceber que sem fé não é possível sonhar e quem não sonha, não tem esperança.
E ter esperança, naquela ocasião, era a única forma de continuar sonhando com
dias melhores. Meu pai faleceu em 2009, mas sigo firme em respeito à sua
memória. Em 2014, completo uma década de fé, devoção e suor, que faço questão de badalar para todo mundo ouvir. E se me perguntarem por quem os sinos dobram, eles dobram por ti, Corrida do Círio.
Corrida do Círio 2006

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