Pesquisa da nutricionista Mirele Savegnago Mialich Grecco propõe que o indicativo de obesidade, o corte no Indice de Massa Corporal (IMC), hoje de 30 quilos por metro quadrado (kg/m2), seja de 28,38 kg/m2 para homens e 25,24 kg/m2 para mulheres. O trabalho também propõe uma nova fórmula para obter o IMC, que hoje leva em conta apenas peso e altura, passando a incluir a quantidade de massa gorda (gordura) do corpo. O estudo teve início no mestrado e continuou no doutorado, defendido em junho último no Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, sob orientação do professor Alceu Afonso Jordão Junior.
O IMC atualmente utilizado foi proposto em 1835, pelo estatístico belga Lambert Adolphe Jacques Quételet, e adotado em 1997 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como referência de medida para a obesidade. Ele é obtido pela divisão do peso da pessoa (em quilos) pelo quadrado de sua estatura (em metros). Além de indicar obesidade para pessoas com IMC igual ou superior a 30,0 kg/m2, ele é referência também para o sobrepeso, que é de 25,0 kg/m2 a 29,9 Kg/m2, e para os considerados normais, que devem estar na faixa entre 18,5 kg/m2 e 24,9 kg/m2. São considerados desnutridos aqueles que estão abaixo de 18,5kg/m2.
O estudo, segundo a pesquisadora, segue uma tendência mundial e ela acredita que no futuro os pontos de corte serão vários e divididos por faixa etária, sexo e etnia, por exemplo. “Nesse sentido, os japoneses já conseguiram a redução do índice deles, que está na faixa de 23 kg/m2. Outros países estudam sua realidade, como nos Estados Unidos. Lá, a principal pesquisa, realizada com mais de 13 mil pessoas, propõe que a classificação de obesidade deve ficar por volta de 25 kg/m2. Levando-se em consideração o IMC tradicional, esse valor, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, atualmente, é o início do sobrepeso”, explica Mirele.
No mestrado, Mirele além de propor um valor mais baixo no corte para a obesidade, também desenvolveu um novo índice, levando-se em conta a massa gorda da pessoa. O peso é multiplicado por 3 e a massa gorda por 4, e o valor é dividido pela estatura (em centímetros). No doutorado, esse índice foi aplicado e ajustado, criando-se as faixas de classificação. Dentro dessa nova proposta, os valores de risco nutricional para subnutrição ficaram entre 1,35 a 1,65; para a normalidade, entre 1,65 e 2,0, e acima de 2,0, para a obesidade. “Essas são faixas iniciais; pesquisas futuras podem ajustar ainda mais esses números. Eles são mais precisos na detecção de obesidade. O ponto desfavorável para esse novo índice é a necessidade de equipamento de impedância bioelétrica para obtenção do valor e massa gorda”, explica.
Sobrepeso
Estudos iniciais, diz Mirele, mostram que muitas pessoas que são obesas, levando-se em conta a porcentagem de gordura corporal são classificados como normais ou apenas como sobrepeso, segundo o IMC tradicional. A pesquisadora alerta, ainda, que esperar a pessoa chegar a 30 kg/m2 pode ser tarde demais, pois ela pode já apresentar início de doenças decorrentes da obesidade, como pressão alta, diabetes.
Com esse novo índice, Mirele acredita que serão identificados, por exemplo, os “falsos magros”, aqueles que perderam músculo, mas acumularam gordura. Por outro lado, também poderão ser encontrados os “falsos gordos”, aqueles com valor alto de IMC, mas em decorrência de ganho de músculo e não de gordura. Esses índices, explica Mirele, são obtidos com um aparelho de impedância bioelétrica, que é facilmente encontrado em clínicas e hospitais”.
Para o doutorado, Validação de índice de massa corporal (IMC) ajustado pela massa gorda obtido por impedância bioelétrica, Mirele fez um estudo transversal com 501 pessoas  de ambos os gêneros, com idade entre 17 e 38 anos, matriculados em cursos de graduação. Aferiu peso, altura e fez avaliação de composição corporal por impedância bioelétrica. Foram coletadas informações sobre padrão alimentar e prática de atividade física. Nas duas pesquisas, mestrado e doutorado, a pesquisadora brasileira encontrou valores muito próximos aos dos EUA. “Essa pesquisas de grandes grupos geram uma mobilização na OMS e, no futuro, os resultados devem trazer mudanças nos parâmetros do IMC”, avalia.
Ela lembra que outros grupos no mundo estão se mobilizando no mesmo sentido. “No nosso caso, precisamos aprofundar um pouco mais o IMC, misturando um pouco mais as faixas etárias e aumentando o número de participantes para chegarmos o mais próximo possível de um índice válido para todos. Nosso estudo é a contribuição brasileira para uma tendência mundial”, conclui.
Mais informações: (16) 3602-4564; e-mails mirelemialich@yahoo.comalceu@fmrp.usp.br

* Extraído da Agência USP de Notícias: http://www.usp.br/agen/?p=106421

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