Costumamos dizer que a corrida
é um esporte solitário. É que, por mais que você a pratique em grupo, no dia da
prova é cada um por si. Cada indivíduo tem seu ritmo próprio, motivação e meta.
Assim, fica difícil conciliar todos esses aspectos.
Quando se trata de maratonas, a
dificuldade para encontrar um parceiro para partilhar suas angústias durante o
percurso é maior. Como sabemos, esse tipo de prova tem um número reduzido de praticantes e achar alguém que possa correr no
seu ritmo é ainda mais difícil. Resta, apenas, a “companhia” do público que vai
ao local da chegada para incentivar e motivar no final da maratona. Felizmente,
na Maratona de São Paulo, tive bons motivos para comemorar.
Primeiramente,
meu amigo Mauro Marufuji, que mesmo lesionado, recuperando-se das fraturas de
duas costelas, gentilmente ofereceu-se para acompanhar-me por 25 km, já que
estava inscrito na prova dessa distância. Mas a parceria começou no dia
anterior ao evento. No sábado, fomos juntos a Expo da maratona retirar o kit do
atleta. Depois, um passeio pelo centro da capital paulista, com direito a um
belo almoço, um cafezinho para aquecer o corpo, em função do frio na cidade, e
muita conversa.

Almoço com Mauro e Lana.
No
dia da prova, às seis da manhã, lá estava ele no hotel para levar-nos para a
largada. Ficamos numa área de estacionamento próximo ao Parque do Ibirapuera.
Estava frio e o vento dava uma sensação térmica bem abaixo dos 14 graus
assinalados no termômetro da rua. Clima ótimo para correr.
Momentos antes da largada da maratona
Ficamos
bem posicionados na largada, próximo ao pórtico. Apesar das baias com a
designação dos ritmos, ninguém respeitava. As faixas indicativas pareciam peças
decorativas, que até combinavam com o ambiente, entretanto, sem finalidade, já
que não havia controle e, portanto, não era obedecida.
A
largada aconteceu às oito da manhã, naquele clima de alegria, mas sem tumulto. Quando
se trata de maratona, há um certo respeito, sem aquela euforia ou gritaria
tradicional. Os atletas parecem se resguardar. Maratonistas experientes que
somos, estávamos tranquilo e concentrados. Combinamos o ritmo de 5min/km e
partimos para mais uma maratona.
Na
Maratona de Paris, também corremos juntos alguns quilômetros, mas como o Mauro
tinha uma proposta de prova mais ambiciosa, dei o sinal para que ele seguisse
sua jornada. Em São Paulo, seguimos juntos e cumprindo fielmente o planejado.
Completamos os cinco primeiros quilômetros em 25min01s. Como bom anfitrião, ele
se encarregava de servir a água nos postos de hidratação, pegava e me
repassava. No km 10, usei o primeiro gel de carboidrato com água que o Mauro
carregava desde o posto anterior. Passamos com o tempo de 49min43s, apenas 17
segundos abaixo do programado.
Durante o percurso

Uma vantagem
de correr na companhia de um paulistano é utilizar seu conhecimento da cidade.
O Mauro sempre antecipava cada ponto do percurso, inclusive com sua altimetria.
Isso nos dava uma grande vantagem porque nos possibilitava antever a
dificuldade e a preparar o corpo para vencê-la. Dessa forma, passamos bem pela
ponte estaiada, túneis e os elevados. Além disso, permitia, ainda que curto, um
diálogo sobre cada momento da prova. Chegamos no km 20 dentro do esperado, com
1h39min29s, ou seja, 31 segundos abaixo.
No percurso dentro da USP
Nessa
altura da prova já me preparava para correr sozinho, pois, estávamos nos
aproximando do km 25. Meu parceiro, além da água, também carregava um saquinho
de Gatorade e aguardava o momento certo para me repassar. Quando avistamos os
funis que separavam a prova de 25 km da maratona, agradeci a gentileza do Mauro
e apertamos as mãos. Ele seguiu para cruzar a linha de chegada e eu continuei a
jornada.

No percurso da maratona
A
chegada da prova de 25 era na Av. Escola Politécnica, dentro da cidade
Universitária da USP. No km 28, lá estava o Mauro novamente. Dessa vez com
isotônico e laranja. Mais adiante, já no km 29, o meu treinador Adriano Bastos
apareceu para dar aquela moral. Gritou “vai Marcão” e aproximou-se com sua bike,
oferecendo-me uma batata. Reforçou que eu estava num ritmo bom e que a parti
dali deveria avaliar minhas condições físicas para a etapa final da maratona. “Se
você estiver se sentindo bem, pode seguir firme que irá fazer um bom tempo”. Prosseguiu
acompanhando-me até o km 30, entretanto, soltava frases de incentivo a todos os
atletas. “Tá faltando menos de uma São Silvestre”, era uma delas.

Esfriando a cabeça durante o percurso
Depois
da companhia do treinador, voltei a minha corrida solitária. Passei no km 30 com
2h28min47s de tempo. Tudo estava sob controle. Meu corpo respondia bem: pernas
firmes, respiração controlada e zero de dores ou câimbras, o que pode
justificar ter uma gordurinha de 1min13s para queimar. No km 35, ingeri o
último sachê de 1 g de sal. Os outros dois foram nos km 15 e 25. A intenção era
prevenir câimbras, muito comum no final da maratona. Nessa altura da prova, o
GPS marcava 2h53min27s. Tinha uma sobra de 1min33s.

Firme no propósito de cumprir mais uma maratona
Como
já havia participado da edição de 2011 dessa maratona, sabia que os túneis no
final da prova eram difíceis, em função da descida/subida e provavelmente
aconteceria uma quebra de ritmo. Então, entrei no ritmo das batidas da Legião
Urbana. Tinha preparado um playlist com as músicas da banda pensando nos
momentos de solidão da prova. Essa seria minha companhia nesses quilômetros finais.

Próximo a chegada da maratona
Nos
km 37 e 38, o ritmo caiu bastante. Continuei firme, mas as pernas começavam a
dar sinal de estafa. Mesmo assim, 5min45s e 5min47s não eram paces tão ruins,
mas sobrevivi ao túnel Jânio Quadros. No km 39, consegui retomar o ritmo normal
e quando engrenava para a chegada, o túnel do Tribunal de Justiça se
apresentava. Nova quebra de ritmo. Nesse momento, eu era o único que corria, os
atletas caminhavam com dificuldade e outros alongavam com câimbras nas laterais
do túnel.

Chegada na Maratona de SP
Quando
saí do túnel, comecei a imaginar a chegada. Olhei para o GPS e já não
raciocinava direito para fazer os cálculos para o tempo final. Procurei
concentrar-me na música e seguir sua batida para, pelo menos, manter o ritmo. Quando
entrei na Av. Pedro Alvares Cabral já não dava para disfarçar a expressão de
cansaço, mas o apoio do público era a energia que eu precisava para mascarar o
cansaço e festejar mais uma maratona, com o tempo final de 3h35min22s.

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