No futebol, categoria pelada, é importante vencer o adversário. No basquete, no vôlei, a mesma coisa. Queremos ganhar uns dos outros. E olhamos de atravessados para os pernas de pau. Afinal, eles estragam o andamento do jogo. Em um joguinho de futebol, você inventa um passe genial para iniciar a tabela e a bola não volta porque o mané não conseguiu dominá-la. Dá nos nervos. A corrida é diferente. Mesmo quando nos consideramos os puros-sangues das pistas, gostamos dos pangarés, olhamos com carinho para quem está se esforçando para começar. É como se a festa ficasse ainda melhor com o salão lotado. É como se mais gente praticando o esporte nos desse mais autoridade para sustentar a tese de que correr faz bem para todos. É uma camaradagem carinhosa. Um sábado desses estava treinando na subida da Biologia da USP (para quem não conhece São Paulo, imagine uns 600, 700 metros morro acima). E corria conversando ligeiramente esbaforido com um amigo. Pois uma moça, provavelmente profissional, passou voando por nós. Não sem antes dizer: “Não se conversa em subida”. Não falou por mal, nem com tom professoral. Não era um “por que não te calas” à lá rei Juan Carlos. Ela queria ajudar e ajudou. A partir de então, interrompo a conversa quando aparece uma ladeira. Lembro sempre daquela sincera moça.
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Texto extraído do livro “CORRERIA – Histórias do Universo das Corridas”
de autoria do Sérgio Xavier Filho, editora Arquipélago Editorial. 

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