Por Iberê de Castro Dias
Pense correr 1km em 2’51”. Um só. Agora, pense correr 2km, nesse ritmo.
Agora, pense correr 42,195km, fazendo a primeira metade nesse ritmo e
ainda aumentando para 2’50” na segunda metade. É isso que precisa para
alguém fazer a maratona abaixo de 2h.
A especulação sobre quando isso ocorrerá é milenar. Futurologia pura. E
confesso que acho essas especulações descompromissadas, meio conversa de
boteco, bem legais.
Philip
Maffetone, americano de longas madeixas brancas, meio médico, meio
músico, meio treinador de endurance, trouxe novas ideias para um debate
antigo.
Ele acha que a maratona sub 2h está mais próxima do que se imagina, e elenca crenças e requisitos para que isso aconteça.
1) Correr descalço ajudaria bem, por conta da economia de energia ao se
correr sem peso algum nos pés. Mas ele próprio reconhece que isso é bem
improvável. O pessoal ganha uma grana alta do patrocinador, para, na
hora H, correr descalço…
2) Preparo mental para romper a barreira das 2h. Em suma, acreditar
que “sí, se puede!”. Historicamente, realmente parece haver barreiras
psicológicas que, uma vez rompidas, fazem passar a boiada. Paul Tergat,
em entrevista à Runner’s World Brasil, dizia da importância de ter
quebrado a barreira das 2h05’ (em 2003, ele fez 2:04:55 e bateu o
recorde mundial da maratona).
3) Os métodos de treinamento aeróbico têm evoluído rapidamente.
4) Ou queniano, ou etíope. É só olhar a lista dos 100 melhores
maratonistas. Da história, da década, do ano… E ele não crê que o
motivo esteja no DNA (não há qualquer evidência científica de vantagem
genética dos africanos do leste), embora baixa estatura e baixo
percentual de gordura, como acontece com africanos, ajudem bem. Questões
sociológicas é que fariam diferença: infância extremamente ativa,
crianças correndo descalças longas distâncias desde cedo, possibilidade
de ascensão social pela corrida…
5) Viver em altas altitudes (como boa parte dos profissionais
africanos) e treinar em altitudes menores (como os africanos nem sempre
fazem).
6) Nutrição impecável, totalmente voltada para o alto rendimento de
resistência aeróbica. E, aqui, segundo Maffetone, os africanos ainda
pecariam muito. Isso é interessante. Africanos estão no topo apesar, e
não por causa, das condições em que vivem.
7) Por fim, percurso veloz. Berlim, Chicago, Londres ou Roterdã.

Eu acrescentaria um. A execução da prova terá que ser absolutamente
impecável. Muito provavelmente, split levemente negativo, algo como
1:00:10, 59:49 nas duas metades, com ritmo praticamente constante. Ainda
assim, com todo respeito aos cabelos brancos de Maffetone, não creio
que vá ver isso acontecer nos próximos, sei lá, 20 anos.


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Texto extraído do blog Intervalado (http://runnersworld.abril.com.br/blogs/intervalado/)

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