Halmstad é uma cidade
portuária da Suécia com quase 80 mil habitantes, distante cerca de 500 km de
Estocolmo. O clima vai do muito frio ao agradável, variando entre -10 a 20ºC.
No verão de 2010, a convite de um casal de amigos moradores da cidade, fiz o
processo de adaptação para a Maratona de Estocolmo. A casa ficava afastada da
área urbana. Uma espécie de sítio rodeado de muito verde e animais silvestres
circulando. Também pudera, ficava dentro de uma reserva natural com uma floresta
com
espécies similares ao pinheiro e eucalipto brasileiros. As ruas eram trilhas de
terra batida, perfeitas para correr. A diferença de fuso horário era de 5
horas em relação ao Brasil. Parece pouco se o meu relógio biológico não
estivesse tão confuso, com as incontáveis horas da viagem. Foram 12 horas de
São Paulo para Paris, 45 minutos na conexão Paris-Copenhagen, uns 20 minutos de
trem e mais duas horas de carro, até chegarmos em Halmstad. Só me dei conta da hora
e data quando brincava com o controle da TV e passei por um canal desses que
presta informações da bolsa de valores e do câmbio mundial. E para piorar, no
verão europeu,
os dias são mais longos do que as noites. Estava anoitecendo às 22 horas e
amanhecendo, às 4 horas. Para quem mora sobre a linha do equador terrestre e
usa a noite para dormir e o dia para acordar, era um suplício. A primeira noite
não foi agradável.

Treinando na reserva natural de Halmstad-Suécia
No dia
seguinte, a meta era regularizar a situação das refeições, ou seja, a fome com
a vontade de comer, obedecendo aos horários corretos. O difícil foi ficar sem o
feijão com arroz e acostumar-se com as batatas, principal fonte de carboidrato
dos suecos, em todas as formas e gostos. Mesmo alimentando-se bem, andava zonzo
e sonolento. Parecia um zumbi. Reflexos da viagem. Ainda não havia treinado,
mas precisava fazer um teste para saber com o corpo ia reagir. Corri logo após
o almoço, às duas da tarde, hora prevista para a largada da maratona. O clima
estava agradável, temperatura em torno de 16 graus. Curti a paisagem de muito
verde com um leve vento frio que não permitia a saída do suor. Sentia um pouco
quando aspirava o vento frio. Isso acabou provocando sangramento da mucosa do
nariz, mas sem maiores consequências. Conclui o treino após 50 minutos de
corrida leve, sem qualquer desconforto. O corpo parecia renovado. A corrida
funcionou como um calmante. Estava otimista para uma “noite” de sono. O negócio
é que o ponteiro do tal relógio biológico que regula o sono funciona com a
escuridão da noite. Talvez, o cafezinho de casa, pós-almoço e no meio da tarde,
seja o ingrediente que não me permite dormir durante o dia. Vai ver que isso desativou
a tecla “sleep” para presença do sol. Mais uma noite praticamente às claras.

A casa onde fiquei hospedado em Halmstad
As olheiras
condenavam a privação de sono a ponto de ser perceptível. Isso já estava
incomodando e me deixando preocupado, pois a maratona se aproximava. Parecia um
zumbi no reino da Suécia, um morto-vivo ou sei lá mais o quê poderia dizer. Durante
o passeio do dia – aliás, essa é a única vantagem de estar num país com essas
características, você tem mais tempo para o turismo – ficava pensando numa
forma que possibilitasse dormir pra valer. Contar carneirinhos não funcionou na
noite anterior. Vai ver que eles não dormem também com o sol. Bem, a estratégia
foi tapar toda e qualquer fresta que permitisse a passagem de um “pingo” de luz
que fosse. O quarto tinha aproximadamente três metros quadrados, com apenas uma
janela. Um pequeno espaço que facilmente foi dominado. Não dava para saber se
era dia ou noite. Ficou perfeito! Deitei às 22h e acordei às 11 do dia
seguinte. Parecia que havia dormido uma eternidade. A partir daí, Halmstad
nunca mais foi a mesma.

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