Tecnicamente, à medida que envelhecemos, vamos ficando mais lentos. Nosso organismo entra em processo de mudanças fisiológicas significativas que afetam a performance na corrida. A perda de massa muscular, força, velocidade, diminuição da elasticidade muscular e articular são as principais alterações experimentadas pelo corpo.
Tais alterações afetam mais diretamente a velocidade do que a resistência. É por isso, que corredores mais velhos são mais resistentes e menos velozes. Segundos dados do Furman Institute of Running and Scientific Training (Instituto de Corrida e Treinamento da Universidade de Furman), nos Estados Unidos, um corredor com 55 anos de idade, por exemplo, se tiver o mesmo tempo que um atleta de 20 anos nos 5 km, é possível que ele seja mais rápido na meia-maratona ou na maratona.
Por outro lado, a perda natural de rendimento à medida que ficamos mais velhos não quer dizer que não podemos quebrar um recorde pessoal (RP). É óbvio, que precisamos estar cientes que ela vai acontecer, mas, em geral, a quebra de um RP está mais ligada às condições ideais no dia da prova do que propriamente a situações fisiológicas ligadas a idade. Um RP é resultado de uma confluência de fatores, dentre os quais, podemos citar: condições de clima, altimetria da prova e condicionamento físico adequado ao nível do esforço exigido à distância a ser percorrida.
Posso dizer isso, pois é exatamente o que vem acontecendo comigo. A minha melhor marca nos 10 km aconteceu em 2006. Tinha 36 anos e consegui fazer 46min29s. Quatro depois, com 40 anos de idade, fiz 45min54s. No ano passado, cravei a minha melhor marca nos 10 km com 42min48s. E a constatação prossegue para distâncias maiores. Meu RP na maratona veio no ano passado na Maratona de Buenos Aires, 3h25min31s.
FOTO: Maratona de Buenos Aires 2011
O fato é que, apesar de estar mais velho, consegui fazer marcas melhores e até expressivas para um quarentão, demonstrando que é possível driblar esse decréscimo de rendimento que ocorre com o aumento da idade. E vou mais longe, particularmente, tenho a sensação de que ainda não atingi o máximo de rendimento. Nos tempos citados acima, os fatores de confluência não convergiram para uma mesma prova, o que significa dizer que posso continuar tentando marcas melhores.
Obviamente, que quando se fala de desempenho físico é importante lembrar que cada organismo reage de forma distinta, diante de certas circunstâncias. E a ciência está aí para comprovar o que estamos falando. Mas entendo que atribuir a idade o aumento do tempo de conclusão de prova, ano após ano, é assumir que está possuído pela “síndrome de tartaruga”, um mal que assombra corredores mais lentos.
Correr mais lento pode ser uma opção e até mais prazerosa do que ser competitivo, mas não justifica atribuir a idade tempos inexpressivos, quando visivelmente se percebe que o rendimento poderia ser melhor.
Sem querer ser pejorativo com quem corre pelo prazer de correr, o termo só se aplica aos corredores que abusam do uso da idade para justificar um desempenho inadequado ao seu nível de condicionamento, quando sabemos que são bastante competitivos. Até porque quem começou a correr já com uma idade avançada o declínio de rendimento ainda não é observado, pois, o corpo vai estar saboreando os benefícios advindos da corrida e a tendência é melhoria da saúde em geral e do rendimento, em particular.
Como físico, posso dizer que ainda não é possível voltar no tempo e retardar o processo de envelhecimento, mas como corredor, sou testemunha que se treinarmos com sabedoria, seriedade e de forma contínua poderemos obter ganhos expressivos em termos de rendimento esportivo, mesmo com o aumento da idade.

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