SÁBADO – 05/JUNHO/2010
Depois do desastre estomacal que me atormentou na sexta-feira (04/06/2010), acordei bem disposto e sem resquício dos sintomas. Tomei o café às 7 da manhã. Tive o cuidado de não ingeri fibra ou pelo menos, não o suficiente para provocar novo desconforto estomacal. Consumi melancia, pão francês com queijo frescal, café e suco de laranja. Retornei ao quarto e fiquei aguardando a reação do organismo durante o processo de metabolização dos alimentos. Às 9, a Mara, o Sven e o Andreas, desceram para o café. Acompanhei-os. Fiz um lanchinho com suco de laranja e melancia. Aproveitei e fiz a comunicação que havia decidido participar da maratona.

Arrumamos as malas e ao meio-dia fizemos o check-out. Depois, fomos almoçar no shoping. Consumi uma macarronada “a bolonese” com suco de laranja. Seguimos de metrô até a estação próxima ao Estádio Olímpico, local da largada e chegada da prova. As estações estavam cheias de atletas de várias nacionalidades, cada uma identificada com sua bandeira. A cidade estava toda mobilizada para a prova. A população veio acompanhar a corrida. A bandeira do Brasil que levávamos era facilmente identificada e vez por outra ouvíamos um grito de “Breisil”. É o futebol brasileiro que é o embaixador do Brasil. Até porque, aqui na Suécia, o Brasil conquistou o seu primeiro título mundial, na copa de 1958.

Chegamos no local da largada e comecei a me preparar com a vestimenta da prova. Havia levado uma camiseta, uma regata e outra, mangas compridas. Deixei para decidir na hora da largada, qual delas usaria, de acordo com as condições climáticas. Os termômetros indicavam 18 graus e o Sol estava presente. Como havia um vento frio, optei pela camiseta, a canarinho brasileira. Passei o creme para evitar assaduras na região das axilas, mamilos, pescoço e virílias. Era a primeira vez que usava. Coloquei o chip e boné e me encaminhei para a baia de 3h45min.

Havia programado concluir a prova em 3h50min. Por isso, fiquei na baia de 3h45min. Estava mais próximo deste tempo do que da baia de 4h. Decidi correr com o Garmin que havia comprado na feira da maratona. O marcador de ritmo dele me ajudaria a manter o ritmo planejado. Ainda na concentração, encontrei outros brasileiros participando da prova. Cumprimentei-os e ambos desejamos boa prova.

A largada foi dada pontualmente às 14h. Passei no pórtico e acionei o cronômetro. Todos corriam praticamente no mesmo ritmo. Essa é a vantagem de baias com tempo programado para a chegada. O povo que acompanhava a prova vibrava. Muito motivante! Ainda recebi o incentivo da Mara gritando meu nome: “Vai, Marco!”.

Nos quilômetros iniciais consegui manter o ritmo. Estava me sentindo bem, mas não forcei, tinha muito “chão” pela frente. Passei no primeiro posto de água, mesmo sem sede, apanhei um copo. Desviei do chuveiro. Não queria encharcar o tênis. Isso poderia causar bolhas. A cada quilômetro, conferia o tempo no relógio e comparava com a tabela, que tinha a minha programação de tempo, para cada quilômetro. Passei no km 5 com o tempo de 27min52s, média de 5min34s/km. Vinte e dois segundos acima do que havia planejado para essa distância (27min30s). Consumi o primeiro gel de carboidrato no km 8. Continuei mantendo o ritmo, que teve quebra na passagem pelos postos de hidratação. Os postos eram curtos e acumulava muita gente, ocasionando a formação de filas. Acontecia a mesma coisa nos postos com isotônico.

No km 10, o relógio marcava 57min04s. Havia programado passar nessa distância com 55min30s. Estava 1min34s acima do tempo estabelecido. O ritmo passou para 5min42s/km. Isso deve ter ocorrido por conta do atraso nos postos de hidratação e de isotônico. Mas estava bem fisicamente e isso me deixava tranqüilo. No km 15, pensei na Corrida de São Silvestre que tem essa distância. O cronômetro marcava 1h25min46s. Acima do que fiz na São Silvestre em 2008, 1h20min25s. Houve uma queda no rendimento, pois o ritmo caiu, o pace passou a ser de 5min43s/km. Ingeri o segundo gel de carboidrato no km 16.

Completei a metade da prova com o tempo de 1h59min19s. Apesar de estar acima do planejado (1h50min), meu corpo respondia bem ao esforço e poderia reduzir o tempo, a partir do km 30, como sugeriu o Adriano (técnico). O pace seguiu em 5min42s/km. No km 22, ingeri o terceiro gel de carboidrato e ainda, resistia em não passar pelos chuveiros. A respiração estava boa e controlada.

No km 25, senti os primeiros espasmos na musculatura da panturrilha. Imediatamente ingeri um sachê de 1g de sal. A dor aliviou em poucos quilômetros. Passei, nessa distância, com pace de 5min42s/km, estabelecendo 2h22min43s. Percebi que as pessoas também começaram a sentir câimbras, muitas caminhavam e outras paravam para alongar a musculatura das pernas. Dois quilômetros após a ingestão do sal, as dores passaram e continuei firme tentando retomar o meu ritmo. No km 28 ingeri o quarto gel de carboidrato. No 30, as câimbras retornaram mais intensas. Ingeri novamente sal e parei no posto de emergência para massagens. Voltei andando e depois retomei a corrida. Apesar disso, passei com o tempo de 2h53min52s, com ritmo de 5min47s/km. No km 34 ingeri o quinto gel de carboidrato e bananas oferecidas pela organização.

As dores se intensificaram. Diminui o ritmo. Quando atingi o km 35, o relógio marcava 3h27min18s, média de 5min55s/km. Passei no posto de emergência e parei novamente para massagens. As dores eram insistentes e não paravam. Decidi que só pararia se a musculatura não agüentasse. A preocupação era completar a prova. Resolvi não olhar no cronômetro e administrar a corrida, de acordo com minhas possibilidades físicas, sem pensar em tempo. No km 40, ingeri o sexto gel de carboidrato e comi uma banana. Estava com pace de 5min59s/km e tempo de 3h59min29s. As dores estavam insuportáveis. Parei e alonguei, mas nessa altura da prova, já não fazia mais efeito. Vi que não tinha mais jeito, as dores iriam permanecer. A opção era desistir ou se arrastar, se fosse o caso, até a chegada. Optei por continuar correndo e quando avistei o estádio olímpico, uma sensação de alívio tomou conta do meu corpo. Abri a bandeira do Brasil e amarrei-a no pescoço. O público gritava “Brazil, Brazil!”. Busquei forças nesses incentivos e continuei mesmo com as dores intensas.

Entrei no estádio olímpico e me arrepiei com a presença das pessoas gritando, incentivando… Ao me aproximar da linha de chegada ouvi o Sven e a Mara agitados e gritando o meu nome. Vibrei muito! Retirei a bandeira do pescoço e levantei para passar pelo pórtico, com tempo final de 4h12min55s, média 5min59s/km e velocidade média de 10km/h.

A perna estava em frangalhos. Caminhei em direção a saída. A musculatura da perna continuava com espasmos. Ao sair do estádio, havia uma grande mobilização para atender aos atletas. Recebi a camiseta e a medalha por ter completado a prova. Mais adiante, entreguei o chip e recebi o kit-lanche. Dei uma paradinha para alongar, mas ao menor esforço a musculatura reagia com sinais de câimbras. Encontrei a Mara e seguimos para nos juntarmos ao Andreas e Sven. Fiz um lanche com banana, isotônico e barra de cereal. Troquei de roupas no banheiro químico e seguimos de volta para o hotel, onde estava o carro do Sven. Jantamos e retornamos para Halmstad. No carro, todos satisfeitos e muito empolgados com o que viram. Realmente, foi muito emocionante!

Missão cumprida! Minha performance ficou assim:
Tempo oficial: 4h12min55s
Classificação Geral: 6385
Classificação p/ faixa etária: 1313
Ritmo: 5min59s/km
Velocidade média: 10 km/h

O resultado final, no masculino, ficou assim:
1- Joseph Lagat (Kênia): 2h12min48s
2- Johannes Kekana (RSA): 2h16min09s
3- Jonah Kibiwott Kemboi (Kênia): 2h16min47s
4- Hillary Kipchumba (Kênia): 2h16min56s
5- Daniel Yego (Kênia): 2h19min35s
6- Adil Bouafif (Suécia): 2h21min47s
7- James Bett (Kênia): 2h22min09s
8- Erik Petersson (Suécia): 2h23min46s
9- Kristoffer Osterlund (Suécia): 2h24min14s
10- Martin Kjall-Ohisson (Suécia): 2h26min15s

Resultado feminino:
1- Isabella Andersson (Suécia): 2h31min35s
2- Aberash Tesfaye (Etiópia): 2h37min20s
3- Seada Kedir (Etiópia): 2h37min28s
4- Irina Mashkantseva (Rússia): 2h43min43s
5- Irina Kozuboskaya (Rússia): 2h44min47s
6- Gladys Chebet (Kênia): 2h44min56s
7- Gabriella Samuelsson (Suécia): 2h46min33s
8- Leena Poutienieni (Finlândia): 2h47min39s
9- Therese Nordstrom (Suécia): 2h48min19s
10- Zinash Alemu (Etiópia): 2h48min49s

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