Não fiz planos, para essa edição, de bater a minha marca da Corrida do Círio do ano passado. Até porque correr abaixo de 42 minutos, depois de seguidas lesões, não é uma tarefa fácil. Numa visão realista, eu diria que é impossível.
Meu planejamento era correr os 10 km entre 50 e 55 minutos. Sou bastante competitivo, mas ciente de minhas limitações físicas. Correr abaixo disso poderia ser uma meta ousada e provocar uma decepção desnecessária, já que estou retornando às corridas e com pouco tempo de treinamento, após a parada. A ideia, portanto, era seguir um ritmo de 5 min/km e no decorrer da prova avaliar às condições físicas para o caso de tentar uma marca mais expressiva.
A largada bem cedinho, às 6 horas, tem sido uma grande sacada da organização da Corrida do Círio. Sem a presença do Sol e o percurso passando por vias arborizadas ajuda os corredores na obtenção de marcas expressivas. O trecho inicial do percurso pela Av. Assis de Vasconcelos, além desses atrativos, tem uma descida suave que ajuda a dar uma “relaxada”, mas a maioria prefere aumentar o ritmo e ganhar alguns segundos. Eu, ao contrário, segui tentando manter o ritmo em 5 min/km, pois não havia muito a se fazer: a via ainda encontrava-se congestionada e era difícil ultrapassar e seguir um ritmo mais forte.
Para evitar ficar olhando para o Garmin a todo momento, adotei a tática de aguardar o seu “bip” de passagem por cada quilômetro e verificar o ritmo. Passei pelo primeiro quilômetro, já na Av. Marechal Hermes, com 4min56s, bem próximo do que havia programado. No retorno pela Av. Castilho França já era possível correr mais tranquilamente, sem atropelos. Em seguida, veio a subida bem íngreme, mas curta, no início da Av. Presidente Vargas. Esta importante via do centro da cidade de Belém tem pistas mais largas e é bem arborizada. Aproveitei e dei uma “esticadinha”. O ritmo no segundo quilômetro melhorou para 4min42s/km e passei com 9min38s, um pouco abaixo do programado.
A Av. Presidente Vargas é paralela ao da largada, portanto, fizemos o caminho inverso, passando próximo do início da prova e entrando na Av. Nazaré (por onde passa a procissão do Círio de Nazaré). Segui com a intenção de tentar manter o ritmo um pouco abaixo dos 5min/km, já que o corpo respondia bem ao esforço. Nessa avenida, o percurso alcançava o terceiro quilômetro e o Garmin avisou que o pace havia sido de 4min40s/km, totalizando 14min18s. No posto de hidratação instalado nessa avenida, a equipe de apoio ainda abria as caixas com copos d’água e isso atrasou algumas pessoas. Peguei o copo diretamente na caixa e segui.
Na Tv. Quintino Bocaiuva já era possível perceber que alguns corredores exageraram na largada e o ritmo já começava a ficar mais lento. No km 4, na Av. Braz de Aguiar, o meu pace era de 4min43s/km e o Garmin marcava 19min01s de tempo de prova. Aproveitei que o povo desacelerava e dei uma “puxadinha” na transição para a Av. Serzedelo Corrêa. Na Av. Gentil Bittencourt, trecho em reta mais longo da prova, duas descidinhas e uma leve subida, empolgavam para acelerar um pouco mais. Atingi a metade da prova num bom pace de 4min28s/km e tempo total de 23min29s, cerca de um minuto e meio abaixo do planejado. No km 6, ainda na Av. Gentil Bittencourt, ocorreu um discreta diminuição de ritmo de três segundo e o pace passou para 4min31s/km, num total de 28 minutos cravados.
No km 7, na Trav. 14 de Abril, o cansaço “tomou conta do meu ser”, como diz a música. Dei uma “quebradinha”. Mesmo assim, consegui correr num pace abaixo de cinco minutos, com 4min48s/km. Do sétimo para o oitavo quilômetro, trabalhei a respiração para não ficar ofegante, pois, mais a diante, na Av. Gov. José Malcher, havia uma subida enjoada e traiçoeira: a gente tem a impressão que ela não é íngreme, mas quando você consegue superá-la e olha para trás tem a exata noção do tamanho da encrenca.  Passei pela subida lutando para manter o ritmo de 4min40s/km, que foi um pouco melhor que o quilômetro anterior.
No km 9, quase no final da Av. Gov. José Malcher, o cansaço veio com tudo. As pernas bambeavam e o calor já perturbava nessa altura do percurso. Já havia perdido a noção do ritmo, mas fiquei contente quando vi 4min42s/km no Garmin. Na Tv. Piedade, aproveitei a água fornecida por um popular, que provavelmente pagava promessa, como ocorre no dia da procissão do Círio, em que muitos promesseiros distribuem água gratuitamente para a população, e acelerei firme no último quilômetro. Entrei na Rua Tiradentes correndo forte. Dobrei à esquerda na Av. Assis de Vasconcelos e ao visualizar o pórtico da chegada, veio uma sensação de alívio. Olhei no Garmin e o pace estava em 4min24s/km.  Cruzei a linha de chegada de mais uma edição da Corrida do Círio em 46min34s.
Apesar do tempo bem acima dos 42min48s obtidos no ano passado, fiquei extremamente contente com o meu desempenho. Fiz exatamente o que o meu corpo permitiu fazer, pois, estou retornando aos treinamentos, após o período da lesão na panturrilha. Como havia programado um tempo final na casa dos 50 ou 55 minutos, correr em 46min34s, sub-50, é um bom motivo para comemorar.

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