O treino de sábado
A noite se despedia, mas o dia insistia em não aparecer. O Sol parecia preguiçoso e resolveu não dar as caras. Muitas nuvens encobriam o azul do céu, tornando-o cinzento e não menos sombrio, anunciavam uma improvável e inesperada chuva.  Tudo dava a impressão de ser mais cedo, entretanto, o relógio marcava 06h11min. Então, pé na estrada…
O treino de sábado, apesar de ser mais longo, com grandes distâncias, é o mais agradável. É o meu preferido. Nele, procuro corrigir a técnica de corrida e, o melhor de tudo, tenho muito tempo para pensar na vida. Nesse momento de corrida solitária, só tem eu e eu mesmo. Parece monólogo paranóico, mas é uma boa oportunidade para descarregar as toxinas do corpo e da alma. Além disso, de lambuja, ganho saúde física e emocional, que me permite surfar nas ondas da vida.
A proposta era 25 km em ritmo bem agradável, cerca de 6min/km. A partida foi da Rua Jovino Dinoá, esquina de casa (Av. Goitacazes). A escolha tinha uma razão: quando era moleque havia uma placa indicando a distância de 2,8 km para a Linha do Equador (hoje, Monumento do Marco Zero). Naquela época a Rua Jovino Dinoá era mão dupla. Apesar de usar o GPS do Garmin, tinha uma boa indicação para cumprir a distância do treino, pois sabia que do Marco Zero ao distrito de Fazendinha tinha mais 10 km. Portanto, era só ir e voltar, e pronto.
Início do treino
Liguei o aparelho de mp3, acionei o cronômetro e segui na Rua Jovino Dinoá no contra-fluxo. Entrei na Rodovia JK já torcendo pela chuva, enquanto ouvia a música Será da Legião Urbana. Quando me aproximei do Sambódromo, uma moto, bastante danificada, no meio da via, indicava a ocorrência de um acidente grave. Cumprimentei os companheiros da perícia e redobrei a atenção. O horário é propício a esse tipo de delito. Os motoristas estão em final de farra, embebedados, em alta velocidade e sem dormir; fatores que contribuem para o aumento das estatísticas de morte no trânsito, a ponto de torná-la como um dos flagelos do mundo moderno.
Passei pelo Marco Zero e discretamente começou a clarear. As nuvens cinzentas deram lugar a outras tantas esbranquiçadas e levaram consigo a possibilidade de chuva. O fluxo de carros era tranquilo, os ciclistas dominavam o acostamento da rodovia. Algumas vezes, era necessário assobiar para avisar que estava passando. Parecia que as bicicletas estavam no piloto automático e seus condutores sonolentos seguiam desatentos. Tomavam sustos, tanto quanto eu.
Atingi 5 km a poucos metros além do posto de gasolina, próximo a sede da Domestilar, e o cronômetro marcava 30min. Nessa ocasião, fiz a hidratação, planejada para cada 5 km. Aumentei o ritmo para 5min50s/km, pois o pé não incomodava. Estava receoso que a fascíte pudesse atrapalhar o treino. Levei comigo na cinta de hidratação dinheiro e telefone celular, para o caso de uma emergência. No km 7, ingeri o primeiro gel de carboidrato.
O percurso é praticamente todo plano, mas ao me aproximar do Parque Zoobotânico tem um aclive de respeito. O jeito é encarar: inclinar discretamente o tronco para frente, diminuir a amplitude das passadas e sincronizar com o movimento dos braços. Subi tranquilamente e sem descontrolar a respiração.
O Sol apareceu e as pessoas também. Os pontos de ônibus acumulavam gente e ainda não havia cruzado com nenhum ônibus. O trânsito, aos poucos, ia se normalizando e o fluxo aumentava. Recebi alguns cumprimentos que consegui identificar as pessoas, dois amigos que moram na Fazendinha e trabalham em Macapá. Outros buzinavam, mas apenas levantava uma das mãos e cumprimentava sem saber ao certo quem era.
Contornei a rotatória do Alfaville e segui rumo a praia de Fazendinha. Nos bares da praia algumas dezenas de mesas estavam ocupadas. Muita gente estava amanhecida e continuava bebendo. Antes de atingir o final da rua da praia o GPS indicou a metade do percurso. Estava tudo sob controle.
Caminho de volta
Peguei o caminho de volta passando para o outro acostamento, também no contra-fluxo da rodovia. Em frente ao parque de exposição ingeri o segundo gel de carboidrato. Continuava me sentindo bem e passei a correr num pace de 5min30s/km.
O clima havia esquentado, era possível sentir o calor advindo do asfalto. A areia que acumulava na pista estava mais solta e saltava, ora para dentro da meia, ora para dentro do tênis. Era desconfortável, mas não causava maiores transtornos. Aproveitei que tinha bastante água, retirei o boné e despejei na cabeça. Deu um alívio danado. Passei, novamente, pelo parque zoobotânico, e aproveitei a descida para dar uma relaxada nos braços, liberando-os do movimento e deixei o corpo por conta da gravidade. Como diz o ditado: “para baixo todo santo ajuda”. Logo adiante um aclive, subi firme com as pernas respondendo bem.
Atingi os 21 km, distância da meia maratona, em frente do Conjunto da EMBRAPA. Lá, ingeri o terceiro e último gel de carboidrato. No monumento do Marco Zero, usei o restante de água para me hidratar e resfriar a cabeça. Segui pela rodovia JK rumo a Rua Jovino Dinoá. O trânsito estava bastante intenso. Em frente ao Sesc/Araxá o GPS indicou que a marca de 25 km foi atingida e o treinamento concluído.
Imagem do percurso do treino de sábado, obtida a partir do GPS 
Percorri os 25 km em 2h16min43s, ritmo de 5min28s/km, velocidade média de 11 km/h e máxima de 13,5 km/h, gastando 693 calorias, frequência cardíaca média de 167 bpm e máxima de 181 bpm, num total de 213 m de subida e 201 m de descida.
Durante o treino tomei algumas decisões importantes. Uma, referente á questões profissionais, e outras, em relação ao próximo evento que havia planejado correr – a Maratona de São Paulo. Porém, serão divulgadas em outros posts.

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